Houve um período da nossa história, que eram poucas ou quase inexistentes, as atividade econômicas na cidade de Curaçá. Grande parte das horas dos dias eram consumidas pelos homens em rodas de conversas sobre pessoas, política e noticias chegadas com atraso dos lugares distantes ou mesmo próximos. Era comum as rodinhas de conversa, essencialmente masculinas, em bares e armazéns e dentre esses, o Armazém de Martinho Badeca era o mais frequentado pela garantia da boa conversa para consumir as monótonas horas.
Pedrina, e a sua irmã Ciclita, moradoras da Rua de Baixo, eram conhecidas pelas línguas soltas quando xingavam pessoas, coisas ou situações e também por serem destacadas pitadeiras de cachimbo e mascadeiras de fumo de rolo.
Num meio de manhã, Pedrina entrou apressadamente no Armazém de Seu Martinho e indiferente à predominante presença masculina encostou no canto do balcão e quase gritando como era o seu jeito de ser, perguntou:
– Tem fumo bom, Seu Martinho?
Com a calma de um quase monge tibetano, como naturalmente se comportava, Seu Martinho respondeu:
– D. Pedrina, tem esse aí do seu lado. É fumo de Arapiraca e até hoje quem comprou não reclamou. Sinta o cheiro e veja se é do seu agrado.
Pedrina pegou na ponta do rolo, levou ao nariz e puxou o ar com força, para sentir o cheiro indicador da qualidade do produto. O fumo muito forte provocou um espirro e junto com o forçado espirro, ouviu-se um sonoro pum!
Fez- se um silêncio sepulcral. Para romper o incômodo clima implantado pelos olhares acusadores dos homens, Pedrina perguntou alto:
– Não tem outro mais forte não, seu Martinho?
O nosso quase monge, de olhos fechados, respondeu calmamente:
– Não D. Pedrina. Só tenho o de fazer peidar. O de fazer cagar tá encomendado, mas ainda não chegou.
– Depois eu volto, Seu Martinho.
Disse Pedrina, já chegando na porta por onde saiu apressadamente.
Por Omar Torres
Memorialista curaçaense e Administrador