Na década de 60, como uma febre que se alastrou descontroladamente, a cultura da cebola assolou as margens do Rio São Francisco. Saindo de Belém do São Francisco, ela veio subindo o rio, enchendo de plantios de cebola as margens de Cabrobó, Orocó, Santa Maria e, por fim, chegou também em Curaçá.
Quem acertava o período da colheita com a alta do preço do produto ganhava dinheiro como jamais tinha ganho em toda a vida. Esses, esbanjavam com compras de carros, luxos e extravagâncias que de longe eram identificados como novos ricos. Pouco se falava dos que se arruinavam quando a safra coincidia com a baixa de preços e perdiam tudo que tinham investido. Era comum pessoas perderem os carros de luxo e voltarem a andar de bicicleta ou mesmo a pés, no curto espaço de tempo de uma ou duas safras. Mas, os comentários mais comuns eram sobre as riquezas ganhas em curto tempo.
Certa noite, depois da janta, como era comum, vários homens se reuniram na calçada da Sorveteria de Joatan, a primeira e única de Curaçá. As conversas giravam em torno das novidades e, naquela época, a grande novidade era plantar cebola. Joatan, um entusiasta da novidade, provocou o compadre e amigo Luisinho Lopes:
– Você tem tanta terra boa na beira do Rio, compadre Luisinho. Por que não planta cebola pra ganhar dinheiro?
Com a sabedoria e calma que lhe é peculiar, até hoje com 103 anos, Luizinho respondeu:
– Compadre Joatan, se é d’eu perder meu dinheiro com “cibola”, eu vou pra uma banca de jogo pelo menos perco sentado.
Não houve contra argumentos.
Por Omar Torres, popular Babá
Memorialista curaçaense e Administrador