Como disse no episódio passado, até o início da década de 70, as viagens de caminhão entre Curaçá e Juazeiro eram extremamente desconfortáveis. Os passageiros iam em cima da carroceria, misturados com cargas e animais, sempre expostos ao frio da madrugada, ao sol da manhã e à poeira da estrada. Era mesmo uma viagem para quem tinha grande necessidade.
As animadas conversas travadas entre os viajantes eram importantes paliativos que amenizavam as demoradas horas de desconforto.
Bernardino Rodrigues, Bina, era conhecido por falar muito e com um volume de voz que se ouvia à distância. Suas palavras eram emolduradas por gestos largos e exagerados, que ajudavam a prender a atenção de quem o escutava. Quando viajava para Juazeiro, fazia da carroceria do caminhão o seu palco particular. Tomava a palavra no primeiro bom dia, ao subir no caminhão, e só a soltava depois que a viagem terminava na frente do Juazeiro Hotel, na Rua da 28, no centro da vizinha cidade e quando todos se dispersavam batendo na roupa pra sacudir a poeira.
Certo dia, no primeiro quilômetro viajado, logo que o caminhão ultrapassou o cancelão da entrada de Curaçá, Bina já dominava a palavra e Zé Reis o interrompeu dizendo:
– Não atalhando a sua proposta….
Tomou a palavra e não parou mais de falar, nem deu a mínima oportunidade a ninguém.
Mais de 3 horas depois, quando o caminhão vencia o areal do Horto, na entrada de Juazeiro, ele virou- se para Bina e falou:
– Como o senhor ia dizendo….a palavra é sua, Seu Bina.
Visivelmente aborrecido, Bina só conseguiu dizer:
– Só por esse restinho de viagem, não quero mais não.
Sem esconder a raiva e de boca literalmente fechada, foi assim até desembarcar na frente do Juazeiro Hotel.
Por: Omar Torres, popular Babá
Memorialista curaçaense e Administrador