Do meio pro fim da década de 50, as longas estiagem no nordeste viraram uma seca cruel. O município de Curaçá também foi atingido e a falta de perspectiva de sobrevivência digna e de um futuro melhor, tangeu boa parte dos seus jovens para São Paulo.
Ali, as dificuldades de adaptação e a falta de qualificação profissional tornavam os primeiros meses bastante difíceis e penosos, momento em que o apoio e a camaradagem dos conterrâneos eram muito importantes. O bairro de São Miguel Paulista era praticamente uma cidade nordestina ou um pedaço de Curaçá. Lá sempre era possível encontrar o apoio e a amizade de um conterrâneo nas necessidades.
De uma leva de jovens de Curaçá vivendo há alguns meses em São Paulo, Tonho de Zé dos Pão era o que estava com mais dificuldade para conseguir trabalho e garantir a difícil sobrevivência na grande capital.
De repente, Tonho passou algumas semanas desaparecido do bairro e dos amigos. Eis que num domingo ensolarado ele apareceu vestido em um belo e caro terno do chique tecido, tropical inglês. Os amigos estranharam a mudança repentina e radical, mas contiveram a curiosidade. Outro domingo e lá estava Tonho. Dessa vez, em fino e elegante terno de casimira, o tecido mais caro daquele tempo. Dessa vez, Nilton Gericó ou Nilton de Cecílio, convocou mais dois conterrâneos pra interrogarem Tonho:
-Que malfeitos estava praticando pra aparecer rico tão de repente? – perguntou Nilton.
Com que tipo de malandros, estava envolvido? – quis saber Roque de Pulú.
Após longo interrogatório dos preocupados amigos, Tonho resolveu falar.
– Eu vou falar a verdade, começou. Fiquem tranquilos que não virei bandido, prosseguiu. É que consegui um emprego numa lavanderia do centro. Os ternos que entregam pra lavar na sexta-feira, só são devolvidos na segunda ou na terça-feira. Eu experimento os que dão pra mim, visto e venho desfilar aqui.
Ainda bem…
Todos respiraram aliviados!
Por Omar Torres, popular Babá
Administrador e Memorialista Curaçaense