Curaçá Oficial

Crônica: Um episódio de Lampião em Curaçá

Nascido Virgulino Ferreira da Silva, ficou célebre como Lampião. Veio ao mundo no Sítio Passagem das Pedras, municipio de Serra Talhada em Pernambuco e consolidou o seu reinado cangaceiro nos Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia onde usou grande parte do município de Curaçá como palco de suas estrepolias.

Já foi dito por estudiosos, que o menino Virgulino acompanhou o pai José Ferreira no penoso serviço de tropeiro, tocando tropa de burro carregada de peles para o poderoso comerciante e industrial Delmiro Gouveia na Pedra. Nessas andanças, palmilharam os chãos de Monte Santo, Canudos, Uauá e Curaçá, grandes produtores de pele caprina e ovina.

Anos depois, quando já era cangaceiro temido e afamado sofreu forte perseguição das forças policiais de quatro estados, quase sendo eliminado depois do mal sucedido ataque à cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte. Foi exatamente para a região de Curaçá, sua conhecida, que Lampião correu em agosto de 1928 e entrou por Santo Antônio da Glória.

Em Chorrochó, então distrito de Curaçá, procurou Zefa Perdida, sogra do amigo cangaceiro Antônio de Engracia. A partir daí reorganizou o bando, expandiu o raio de suas ações e por 10 anos foi a principal personagem dos sertões nordestino.

Nos primeiros anos da década de 1930, ele e o seu bando andaram várias vezes bem próximos da cidade de Curaçá, mas não há conhecimento que algum dia entraram aqui.

Numa dessas andanças Lampião parou e descansou na Faz. Paus Preto há cerca de três léguas e pouco da cidade. Almoçou cedo e despachou um portador para Curaçá levando recado desaforado para as forças ali acampadas.

– Procure o Comandante da tropa e diga que se lá tiver homem, venha brigar. Tô com dias que não troco tiro com “macaco” e tô sentindo falta.
Tão logo o portador sumiu na estrada, ele despachou outro para Santa Maria da Boa Vista, com igual mensagem.

Algum tempo depois, saiu da Fazenda Paus Preto, avisando que até o anoitecer estaria de volta pra esperar as forças que poderiam vir brigar.
Por ser mais perto e de mais fácil acesso, a tropa de Curaçá chegou primeiro, ainda com o claro do dia. Foi avisada que os cangaceiros voltariam logo mais pra brigar. Procuraram as melhores posições para o combate e vários homens se entricheiraram dentro do curral de grossas madeiras.

Já com o escuro da noite perceberam o aproximar cuidadoso e cauteloso de pessoas. Certos de que era os cangaceiros que chegavam, na distância segura abriram fogo. O revide veio em igual intensidade e o tiroteio ficou feroz.

Depois de um tempo, certos de estarem enfrentando Lampião e seus cangaceiros, a tropa de Curaçá começou a xingar e cantar a sua valentia, como era comum em combates como aquele. Do outro lado veio igual resposta, mas quem cantava era a tropa de Boa Vista.

Algo estava errado! Convencidos que brigava polícia com polícia foi dada a ordem de cessar fogo. Recolhidas as tropas, constatou-se alguns feridos e um morto no pessoal de Boa Vista.

Só então se deram conta da armadilha que o ardiloso Lampião montara pra eles.

Muito provavelmente, Lampião se distanciou do palco da luta sorridente e satisfeito com a sua astúcia.

Por Omar Torres, popular Babá

Administrador e Memorialista Curaçaense

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