Brasil, Meu Brasil Brasileiro Descuidadamente, estava relendo uma piada que ao seu final dizia: “as quatro melhores coisas do mundo na verdade são três, dinheiro e mulher!” Parei, ri e veio aquele sentimento tupiniquim, isso é a cara do Brasil, o Protasov fez ouvido de mercador, nem deu importância. O Brasil que deu a oportunidade de contar a sua história, àquele que perdeu a guerra, o Brasil onde foi criado uma liga futebolística denominada Clube dos Treze, onde tinham dezesseis times, o Brasil de brasileiros que criaram uma célula do estado islâmico para ações na Copa do Mundo de 2014, onde um dos jihadistas denominava-se Israel, isso mesmo o que vocês leram, ISRAEL! Até nesse tipo de convocação nos falta critérios, então me abstive nesse caso de chama-lo, utilizando um outro termo,(aquele mesmo que o STF e toda a mídia tradicional está chamando os vândalos que invadiram órgãos públicos em 08/01/2023, que antes eram denominados MANIFESTANTES), voltando ao maometismo, despretensiosamente, para não ocorrer o mesmo que acontecera com Salman Rushdie, quando publicou The Satanic Verses, em português bom e claro, Os Versos Satânicos; esse mesmo Brasil que usou durante muitas décadas em seu alfabeto oficial, vinte e três letras, mas que os professores cochichavam aos ouvidos de seus alunos primários, que existiam mais três, que não faziam parte dele ( K, Y, W), para serem aplicadas em palavras de outras línguas maternas (estrangeiras, por mais estranho geograficamente que pareça), como as oriundas do tupi-guarani, as descendestes do anglosaxão, em nomes próprios e derivados dessas e outras mais.
Já que esbagaçamos a falar em línguas maternas, não tem como deixar “envultada”, a orgulhosa, mãe da nossa “última flor do lácio”, como disse Olavo Bilac em seu elucidador soneto, cheio das sabenças – inculta e bela; assim como ainda não me expurgaram o direito de interpretar, quanto ao seu, esplendor e sepultura, mesmo que os críticos literários “disconcordem” como diria um amigo na antiga Maniçoba Agrícola. O impetuoso Latim, por muitos séculos cresceu sobre as asas da águia romana, flertando com o antigo grego e outras línguas nórdicas, mas se tratando da influência grega, lembro das minhas professoras, Ester Mota, Juscelita Rosa e por fim, Maria Conceição Hélio, com suas meticulosas aulas gramaticais, tratando de Morfema, Radicais gregos com seus sufixos, afixos e prefixos, além das complexas aulas de grafemas, com todas as suas “braiadas”, como nunca aprendi a nossa caçula neolatina língua, onde aflorava a dúvida se usava ç, ss, sc, eu emprenhava uma letra por cima da outra e depois ganhava no grito contra os professores, falando que tinha errado e posterior corrigido, nunca perdi uma peleja dessas.
O esquisito era esquentar meus “ticos e tecos”, ver essa barafunda gramatical e não poder incluir as supracitadas e exclusas letras no alfabeto. Voltando mais alguns séculos, exatamente anterior a mais célebre guerra grega, a homérica Guerra de Tróia, já que a raiz de toda essa bagunça fora anunciada por um oráculo, onde o mesmo dizia(Com a licença poeta, seja de Homero ou de Virgílio): “Depois da queda de Tróia, um de seus filhos haverá de dar início ao maior império do mundo”, assim com sua pena, o poeta Virgílio, tintura na Eneida a saga de Eneias, príncipe troiano, filho do mortal Anquises e da deusa Vénus, (a fogosa Afrodite em grego), que ao se livrar das chamas que devoravam a cidade construída por seu ascendente Tros, o semideus foge para perpetuar a sua cultura e descendência, enfrentando as mitológicas tempestades do Mediterrâneo e seus monstros, assim como Odisseu o fez no mesmo rastro, contudo o filho da deusa do amor chega até a costa africana, onde enamora e dilacera o coração e o sentimento empreendido por Dido, uma princesa fenícia, mas em busca de cumprir os desígnios do oráculo e a profecia de sua prima Cassandra, abandona a irmã do rei Pigmalião, que desesperada, pira e se atira numa pira funeral, na mesma praia onde o general Aníbal segue séculos depois para pisotear o Império Romano com seus trinta e oito elefantes de guerra; seguindo os seus tormentos e enfrentando as tormentas mediterrâneas, Eneias ancora seus navios na praia de Cuma, região na Península Itálica (e não a abreviação “nordestinesa” de uma interpelação) e lá reencontra Anquises, já desencarnado, seguindo seus conselhos vai apoitar no Lácio, terras onde fora erigida a cidade de Roma alguns anos subsequentes; ciente da sua missão e já apaixonado por Lavínia, correspondido pela filha de Latino, Eneias enfrenta os ciúmes e a ganância de Turno, que por sua vez, não dava trégua ao troiano em turno algum, em busca da mão da princesa; depois de uma ruma de batalhas, após um combate singular a profecia se inicia.
A Eneias sobrou disseminar a sua descendência, pois Rômulo e Remo também são oriundos dessa estirpe, assim como o imperador Júlio César, que por sinal como sinal de seu parentesco, o primeiro nome é em homenagem a Julo Ascano, o filho do herói troiano, fruto do casamento com sua primeira esposa Creusa.
A Latino, rei do Lácio, sobrou o idioma e seu nome amarrado a todas as línguas derivadas do seu próprio nome, assim como na língua portuguesa, exemplo maior do latim vulgar, que foi tingido e disseminado pelas pontas das espadas romanas na antiga Lusitânia por seus soldados, que eram analfabetos de grau, gênero e número. Em suma, o nosso idioma foi desenvolvido no famoso sistema russo, conhecido como:”Nascochoviski”. Imaginem o trabalho que teve Fernão de Oliveira e João de Barros para juntar as palavras e edificar as primeiras gramáticas da língua portuguesa no século XVI? Depois imposta ao Brasil, mata a dentro, mesmo com seus troncos e barrancos linguísticos, antecessores ao Cabral, acrescidos as invasões francesas e holandesas, que hoje temos que pronunciar nedeerlandesas, além dos diversos e diversas línguas e dialetos africanos, que chegavam amordaçados nos navios negreiros, mas que saiam a boca-miúda das senzalas e até hoje vivem em nosso cotidiano. Durante muito tempo presenciei o meu pai, Herval Félix, dar-nos aulas gramaticais usando trechos dos Lusíadas, pois, segundo o mesmo, Luís Vaz de Camões foi um dos pilares da língua portuguesa, assim como outros grandes poetas, inclusive, luso-brasileiros, por coincidência ou não, Camões é contemporâneo aos edificadores das primeiras gramáticas desse complexo idioma, por diversas oportunidades, nos referendava com o mesmo poder de argumento em diversos versos de Castro Alves e textos de Padre Antônio Vieira, para ele poetas dessa envergadura eram mais confiáveis do que algumas gramáticas ou certos dicionários.
O tempo passa, tivemos inúmeras reformas ortográficas, creio que a de 1945 foi a mais de nariz empinado, coisa de “português de Portugal”, com toda a sua soberba pejorativa, algumas dessas reformas nem nos avisaram que aconteceram, as que tive conhecimento fui capaz de esquecer, depois da, terrível seca de 1993. Então o meu velho gato, Protasov, que vive solto aqui no rancho, tem seu nome amarrado ao tronco eslavo, olha pra mim com cara de quem quer perguntar o porquê de tanta preocupação com esse tema, mas só mia e volta a “azunhar” o batente de madeira da velha porta. Dizem que não existe nada tão ruim que não possa ser piorado, depois de toda essa viagem no tempo e na história, de toda complexidade linguística, das tantas exceções por cima de tantas regras, depois de uma verdadeira odisseia para tentar alumiar o quão é difícil o português; ligo a TV para relaxar e me deparo com ministros de estados dando mais uma “catarrada” no nosso lupanar linguístico com: “Boa noite a todos, todas e todes!” Por cima disso, vem a reportagem que o STF proibiu escolas de um determinado estado proibir o uso da linguagem neutra, linguagem essa que no vernáculo ainda está oculta. “Caetaneando velosamente”, outrora ouviria que é proibido proibir… Se Camões estivesse vivo, possivelmente refaria aquele seu comentário e pronunciaria, “é morrendo e desaprendendo”. Vou parar por cá, sem “críticas derrubativas,” até pela razão de viver a tropeçar na nossa gramática, hoje creio que falar em eslavo vai se tornar mais fácil do que em português do Brasil. Eita, já é tarde, estou ficando velho, estou pior que cascavel pisoteada em beira de vereda, como dizia a minha vó, estou cheio de nó pelas costas, de tanto stress deu agora até uma forte dor nusmeusovis.
Por Ticiano Félix
Curaçaense, poeta e criador