Curaçá Oficial

Crônica: O guarda e o coletor: um causo entre Edeltrudes Araújo e Alexandre Bahia

Edeltrudes Araújo, era um Guarda Fiscal da Secretaria Estadual da Fazenda da Bahia, lotado na Coletoria de Curaçá. Edeltrudes era descontraído, leve, sorridente, bem humorado, falador de gíria e sempre uma boa companhia de copo.

Exatamente por essas qualidades, que o fazia companhia disputada, era que o sisudo e formal Coletor Alexandre Bahia, seu chefe, o tratava com rispidez, equidistância e severa formalidade.

A fala debochada, intercalada de gírias, quando respondia às perguntas de Seu Alexandre causaram muitas discussões e até punições. O Chefe, que detestava brincadeiras, bebida e gíria sempre sonhou em vê-lo longe da sua Coletoria.

Numa época, Seu Alexandre andava muito mais mal humorado que de costume. O motivo, foi a decepção com o comportamento irresponsável do filho Gilberto, que ele mantivera alguns anos em Salvador somente para estudar. O jovem se encantou com a vida mundana da capital e esqueceu os estudos. Mais um ano escolar perdido e dessa vez Seu Alexandre recambiou o filho da Capital para Curaçá, impondo-lhe o severo e penoso castigo de arrancar caruá em sua fazenda na Serra do Icó.

Ao fim de uma manhã em que mais uma vez se desentendera com o chefe, Edeltrudes estava cercado de amigos tomando o aperitivo do almoço. Eis que entra no bar o seu filho Miro que encabulado e gaguejando mais que o costume, se dirige ao pai na frente de todos.
– Pa..pa..pai, eu que… quero lhe pe…pe…pedir uma coi… coisa.

– Fale Miro e vá embora que bar não é lugar de menino.

Movido pela solidariedade com o amigo Gilberto, Miro conseguiu falar firme e corrido:

– Eu quero que o Senhor deixe eu ir pra Serra do Icó, arrancar caruá com Gilberto.
Edeltrudes levantou da cadeira, fechou a cara, empertigou o corpo, como fazia Seu Alexandre e imitando a voz austera e solene do chefe, bradou:

– Você é louco! Civilize- se! Quem sou eu pra mandar você arrancar caruá na serra do Ico!

Seu Alexandre, que é Seu Alexandre Bahia, se quis que o seu filho aprendesse a arrancar caruá, pagou três anos de estudo pra ele na capital. Três anos, Miro! Três anos!

Todos entenderam a gozação e caíram em sonoras gargalhadas.

Por Omara Torres Babá

Administrador e Memorialista Curaçaense

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