Curaçá Oficial

Crônica: O Chicote

Dentre as muitas qualidades que Hermógenes Paixão possuía, a de exímio artesão de couro, era, talvez, a que mais lhe conferia destaque, admiração e respeito.

Assim como era extremamente exigente com a qualidade dos seus trabalhos, ele também o era com a produção dos outros. Ao mínimo defeito encontrado não poupava críticas.

Dedicava um olhar apuradíssimo sobre as peças produzidas pelos concorrentes e sempre encontrava uma imperfeição para apontar.
A verdade é que todos os “oficiais” do couro temiam o julgamento e a, sempre certa, condenação de Hermógenes.
Foi por isso, que Cesário da Fazenda Cabaceira, tomou como desafio confeccionar um chicote perfeito. Com muito esmero produziu um chicote de quatro pernas em relho cru.

Ao fim do trabalho, examinou cuidadosa e detalhadamente a peça e se dando por satisfeito, entregou a um vizinho, com a seguinte recomendação:

-Seu Antônio, leve esse chicote pra Hermóge examinar e pergunte a ele se tem defeito. Quero ver o que ele vai dizer
A missão foi cumprida.

Com o chicote nas mãos, Hermógenes olhava e revirava a peça à procura de um defeito. Depois de longo e apuradíssimo exame ele devolveu o chicote a Seu Antônio dizendo:

– De fato é uma peça muito bem feita. Mas tem um defeito: o “oficial” que fez é esquerdo (canhoto).

Por Omar Babá Torres
Memorialista Curaçaense e Administrador

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