Não sei se conto ou não conto, não sei se escrevo uma crônica, uma poesia ou até um conto. – Vou contar!
Diversas culturas distintas têm se mostrado dominantes ou carentes na arte de dominar, então as mais fortes seguem dominando tudo que atravessa pela frente, isso vai desde o sexo oposto a povos diferentes na raça, cor da pele, seja no setor cultural, social, político, fisicamente e até sobre espécies diferentes, como a submissão de animais.
Enveredei inicialmente, fazendo uma pequena viagem ao mundo para não deixar “dúvidas afirmativas e derrubativas” sobre a domesticação de animais, que foi e infelizmente ainda é cultural TAMBÉM aqui no Sertão Nordestino, então não quero ouvir picardias de exclusividade sobre a geografia dessa problemática. Dou de exemplo o garoto propaganda da Rom ou Rum Montilla, bebida que faz sucesso desde 1957 (Só não sei quanto tempo falta para os ambientalistas processarem aquele pirata…), apesar dessa marca ser oriunda do sudeste brasileiro, o nome Montilla é uma homenagem a um pequeno município da Espanha que recebia muitos corsários e, eles, quase sempre tinham um papagaio de estimação. Se duvidar, quem sabe não é também o torrão natal dos criadores da destilaria Medellín?!
Eu tive um tio avô, nascido em 1913 e falecido em 2001, homem bom, virtuoso, senhor detentor de todos os pilares edificantes da hombridade sertaneja, que foi batizado com a graça de Isaías Félix, um sujeito que a gente gostava de graça, inclusive, muito bom de fazer graça, para alguns mau-interpretadores ou os sem-espíritos risonhos, até o “levianavam”, afirmando que ele “soltava cachorro com a corda”, ou o comparavam com “um cachorro de preá”. Os dois supracitados termos são metáforas ou prosopopeias nordestinas para ilustrar alguém que nem sempre fala a verdade (por falar em verdade, eu sempre confundi essas duas figuras de linguagem, é o preço por filar tantas aulas para bater meus babas). Certa feita, tio me contou que ao retornar de um campo sobre o lombo do seu cavalo, ao “escurecento” final do dia, ouviu uma ladainha no meio da caatinga. Como se via muita “visagem” NAQUELA ÉPOCA (por certo, hoje, as almas descansam em paz) e distante a léguas de qualquer sede de fazendas ou vilarejo, ele foi consumido por uma curiosidade “pandoriana” de ver o impossível de se ver, então se viu na obrigação de dar uma espiada. Apeou-se do alazão e foi “felineando-se” sobre as pontas dos pés para se “aprochegar”, em silêncio, a uma velha baraúna, de onde vinham as vozes. Não viu nada, além de ver o seu medo denunciado pelo arrepio capilar, que ouriçou até os pêlos mais entocados, além de um grande oco na multicentenária árvore, mas a ladainha continuava, onde uma voz dizia: Louvado seja o nosso senhor Jesus Cristo, aí várias vozes respondiam – Para sempre seja Deus louvado. Nascido e criado naquelas terras secas, distantes e inóspitas (inclusive, tempos depois foi encontrado lá próximo um par de botas que, pelo estilo e estado, estão atribuindo ser as de Judas), ele não teve dificuldade em “lagartixar-se” até a forcada da braúna. Pondo fogo em um artifício conseguiu alumiar e ver que nada mais era do que um velho papagaio que fugiu de uma família extremamente religiosa, tentando ensinar a sua prole todas as orações que aprendera na antiga residência, porém como escolheu uma braúna para edificar a sua nova morada encontrou muita resistência na aprendizagem dos seus filhos, a turma era meio rude. A tese é cientificamente ainda sem comprovação, mas comprovadamente verdadeira no negro mercado de aves (segundo meus velhos amigos Robson Raposa e Rafael Clis, consultores mercadológicos do setor “papagaial”), já que na hora da comercialização os papagaios oriundos dessas árvores não têm um bom valor comercial, pois não conseguem aprender e repetir um número grande de palavras.
“Bulmerangueando” entre o antigamente e os tempos atuais, um anônimo cientista sertanejo denominou uma conhecida avalanche contemporânea de Complexo do Papagaio de Braúna, casos renitentes no cotidiano de diversos campos e campus brasileiros, onde campeia essa síndrome, “inhaqueada” sobre formadores de opiniões que vêm conseguindo repetir e “aralditar” na memória de muitos, algumas raras palavras e até formando frases, daí em diante, ecoando para toda a nação, até chegar aos ouvidos de outras aves. Desculpa! Digo – formadores de opiniões dos outros, nascidas (os), (es) e empenadas (os), (es) em distintos ocos, apartamentos ou casas. Como exemplo temos aquelas palavras que estão sambando banguela a fora da boca dessa turma, tipo: Comunista, negacionista, terraplanista, falsário, golpista, socialista, fascista, genocida, miliciano, sionista etc. Muitas vezes esses difusores das verdades absolutas do abstrato não têm nem ideia do significado, benefícios (se houver) e malefícios que essas palavras e frases representam, talvez saibam tanto sobre esses repetidos termos quanto sabemos sobre os Segredos do Castelo de Grawuskul ou do paradeiro do caminhoneiro Arlindo Orlando.
Se alguém tem dúvidas da história que meu tio presenciou, fique à vontade, é só ir perguntar a ele e tirar a dúvida, eu acreditei…
Por Ticiano Dantas Félix.