Por muitos anos Juazeiro deteve o título de “melhor carnaval do interior da Bahia”.
A proximidade era o forte argumento para alguns jovens de Curaçá não perderem as alegrias e as liberdades comuns a essa folia. Como a maioria não possuía renda própria, era o período em que os pais sofriam forte pressão para garantirem o dinheiro que garantiria a folia.
O jovem Ivanildo Torres Lima, ou Nido de Inácio, era um desses notáveis foliões. Os pais sempre atendiam aos seus apelos e garantiam o recurso, verdadeiro passaporte para as alegrias daquele súdito do Rei Momo. Teve um ano que Nido se excedeu nos gastos e isso nos meses que antecederam o carnaval. Seus pais decidiram não liberar o dinheiro da festa. Ele se aperriou. Pensou, pensou…. e não via a possibilidade de conseguir o dinheiro. Já no desespero, lembrou que a família tinha bom rebanho caprino na Fazenda Boa Esperança. Na certa, teria algumas suas também. Vou vender – pensou.
Como a Fazenda era muito distante da cidade, teve de fretar um jipe para levá-lo. Depois de algumas horas de viagem, ele ficou bem animado quando chegou e viu da calçada da casa no alto, lá embaixo, na várzea próxima de um riacho, grande quantidade de criação pastando. Rapidamente fez as contas e imaginou que dava pra vender umas dez cabeças. Já sentia garantida a sua participação no desejado carnaval de Juazeiro.
Para receber a visita e com visível cara de surpresa, apareceu João, o vaqueiro. Nido foi direto ao assunto:
– João, preciso vender com urgência, umas criações das minhas que tiver ai.
De pronto, João respondeu:
– Você não soube Nido?
Deu uma chuva pras cabeceiras do riacho grande, a enchente chegou aqui de madrugada e a criação que tava na “varge” foi toda carregada.
Apontando para o magote que pastava na várzea, Nido perguntou:
– E aquelas alí? Não são nossas?
João retrucou:
– Não. Aquelas são as minhas que escaparam.
Olhando bem dentro dos olhos de João, Nido contra atacou:
-Vixe, João. E você só ensinou as suas a nadar?
Fez-se o silêncio de uma eternidade e ele teve de voltar com uma grande preocupação a mais: onde arranjar dinheiro pra pagar o frete do jipe.
Por Omar Torres, popular Babá
Administrador e memorialista curaçaense