Alberto Mota Xavier ou Betinho de Lídio, é, com certeza, uma das figuras mais lembradas e reverenciadas da história recente de Curaçá. Homem de boa índole, modos simples e jeito solto de viver, Betinho era amigo e querido por todos. Ao seu jeito bem próprio de ser, se somava um modo peculiar de empregar as palavras, livremente, tal como lhe vinham à boca. Tudo isso fez de Betinho de Lídio uma pessoa muito querida no largo tempo em que Curaçá admirava e valorizava a sua própria gente.
Lembro que certa vez estávamos nos preparando para um treino de futebol. Enquanto a bola era tocada entre os jogadores, eis que surge Betinho, vindo das bandas do Sítio de D. Joaquina. Ele vinha com uma perna da calça arregaçada até o joelho e uma corda pendurada no ombro sem camisa. Parou a alguns metros dos jogadores e gritou pedindo a bola:
– Menino, role aí essa cabaça, que eu quero dar um coice nela.
Riso geral!
Outra vez, Betinho andou dizendo a todos os amigos que se convertera “à lei dos crentes”. Sumiu dos bares e passou a se trajar melhor e a se comportar como tal. Sempre de calça e sapato, camisa de mangas compridas abotoada até a gola e nos punhos e uma indefectível e surrada bíblia debaixo do braço. Quando lhe ofereciam bebida ele declinava da oferta, dizendo:
– Não bebo. Agora sou crente.
Todos estranhavam, mas respeitavam.
Um dia, entrando no Bar de Osvaldo Costa, nos deparamos com Betinho levando um copo de cerveja à boca. Alguém gritou incontinente:
– Betinho, você está bebendo? Você não disse que é crente?
E ele, mais rápido que a assombrada testemunha respondeu:
– Sou. Mas, sou um crente absoluto.
E ante a risadaria geral, terminou de tomar a sua cerveja.
Falar em Betinho não tem como não lembrar também da sua admirável e muito querida esposa Bernadete e sentir imensa saudade deles!
Por Omar Torres
Administrador e Memorialista Curaçaense